Representação rara de Santa Catarina de Alexandria é restaurada
Quem são os maiores inimigos das obras de arte? Umidade, sujeira, temperatura e insetos estão entre eles. Felizmente, há muitas pessoas com consciência de que a arte é uma das bases da nossa identidade e da nossa história, instrumento poderoso para compreender quem somos e para onde queremos ir. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) tem se destacado na luta pela preservação da memória, dos documentos históricos e artísticos do nosso Estado.
Na linha de frente desse desafio está o Museu do Judiciário Catarinense. Uma das últimas tarefas cumpridas com sucesso nesse sentido foi a restauração da pintura “Santa Catarina de Alexandria”, do artista plástico Edson Flávio de Oliveira Pereira. A obra é uma das únicas representações da santa em estilo bizantino em nosso Estado. A pintura chegou ao TJ em 2001, quando foi inaugurada a Capela Ecumênica – e é onde está exposta há 22 anos. Aliás, a capela guarda as relíquias da santa, trazidas do Egito pelo padre grego ortodoxo Angelos Kontaxis em 1999.
“As obras de arte sensibilizam, humanizam e tornam o ser humano melhor”, diz Jaqueline dos Santos Amaral, chefe da Seção do Museu. “A pintura faz parte da capela e, portanto, faz parte da história e da memória da sociedade catarinense.”
Felipe Gomes de Souza, recepcionista do TJ, afirma ser “importante que a instituição conserve a pintura e, além disso, a disponibilize de forma gratuita para todas as pessoas que quiserem conhecê-la”. Santa Catarina, ele lembra, padroeira do Estado barriga-verde, é uma mártir cristã, nascida no Egito no século IV, protetora dos estudantes, filósofos e professores, mas ainda não é tão popular dentro do cristianismo. Aliás, é provável que sua história de vida seja ignorada por boa parte dos catarinenses.
“A gente cuida, gosta e respeita aquilo que conhece, portanto considero fundamental conhecer a nossa história, conhecer o lugar onde estamos para amá-lo e preservá-lo. Este quadro, que extrapola o lado religioso e mostra vários elementos da vida de Santa Catarina de Alexandria, nos ajuda neste caminho”, afirma Pedro Paulo Raimundo, recepcionista da Capela. Aos estudantes que visitam o local, ele mostra o quadro e pergunta: “Por que nosso Estado tem este nome? Quem foi esta mulher, o que fez e como ela pode nos inspirar?”
Daí a importância de conhecer a história e tudo que a represente. No caso da pintura de Santa Catarina de Alexandria, pela ação natural do tempo, ela foi perdendo as cores e se danificando – isso acontece com quase todas as obras de arte. Apresentava danos generalizados, fungos e microfissuras no fundo amarelo. Já o suporte estava manchado, com bordas irregulares e fixado com pregos oxidados. A moldura de madeira exibia abrasões e mossas, além de fita gomada fixada na parte superior e inferior.
Por isso, se fez necessária a restauração. Depois de um certame público, quem ficou responsável pelo desafio foi Márcia Regina Escorteganha, doutora em arquitetura e urbanismo. Seu objetivo: deixar a pintura do mesmo modo como foi concebida por Edson Flávio, falecido aos 61 anos em 2018. É um trabalho que não admite erro porque, caso não seja bem feito, a obra pode ser danificada para sempre.
Márcia fez um diagnóstico do estado de conservação da obra. Na sequência, entre outras tarefas, removeu os agentes deteriorantes; retirou a fita gomada acidificada e trocou o sistema de fixação, já oxidado; desinfetou a camada pictórica e fez a higienização a seco e química da superfície, na frente e no verso, além de um preenchimento pontual de áreas faltantes e nivelamentos. O resultado, primoroso, pode ser visto na Capela do Judiciário – aberta ao público das 12h às 18h.