Gosto não se discute?

 

Por Carolina Agnelli*

 

O gosto é formado da seguinte maneira. Uma dada informação sensorial passa por nossos sentidos, dentro de nós a impressão sobre aquela experiência se forma com a cooperação da imaginação e do raciocínio. A imaginação irá atuar de modo a completar aquela experiência, colocando-a dentro de suas devidas circunstâncias, e armazenando-a na memória. Já o raciocínio, com a ajuda dos juízos, irá chegar a uma conclusão se aquilo é bom ou mau. Numa linguagem mais metafísica, dizemos que a hierarquia do gosto é: 1. sensibilidade; 2. imaginação e juízos; 3. raciocínio.

A sensibilidade é quase a mesma para todos, ou seja, todos irão receber aquela dada informação da mesma forma, porém a sua reverberação interior é que faz com que o gosto tenha suas nuances, limitações e diferenças. No campo na imaginação e dos juízos (ligação de um conceito a outro) se tem presente muito da maneira pessoal de enxergar o mundo, que é devida à educação, tendências familiares, temperamento, pátria mãe, formação do imaginário etc. Na questão do raciocínio, está presente a capacidade de formação de juízos verdadeiros, que procuram a transcendentalidade do ser (encontro com o que é eterno).

Portanto, a soma desses fatores faz com que o gosto seja mutável de pessoa para pessoa, o que não é ruim. Porém o que infelizmente acontece é basear o gosto apenas em prazeres sensoriais, sem emitir juízos ou utilizar do raciocínio para avaliar se aquilo está condizente com a verdade e a beleza do mundo, ou seja: se é bom… se é proveitoso gastar tempo consumindo certo tipo de conteúdo, de entretenimento, de passatempos etc.

Outro fator interessante é pensar que o gosto entrega realmente o que se passa na alma de indivíduo. Se em seu discurso ele diz ser um erudito, amante das coisas elevadas, mas por diversão se utiliza de entretenimentos imorais, com elementos que exijam dele um rebaixamento intelectual e espiritual, é inteligente desconfiar da unidade de vida desse tal indivíduo. Isso se dá porque, como explanado acima, o gosto é simplesmente um reflexo do caráter de uma pessoa, pois são a junção dos sentidos da alma em ação. Quanto mais baixo, simplório, imoral o gosto de alguém, menos essa pessoa usa das potências da sua alma. Mesmo que seja apenas por um divertimento, o que pode parecer inofensivo, não o é, pois tudo que consumimos reverbera na alma do ser humano, e consequentemente no seu caráter, na sua inteligência, na sua atuação no mundo e perante Deus.

A falta de gosto é, então, fruto de uma brutalidade de caráter, ou de pessoas que não meditam o suficiente sobre as coisas do mundo e suas impressões, ou homens mergulhados nos prazeres do mundo (ou que não conseguiram retirar de sua vida certos prazeres desnecessários, apesar de não tão graves), ou espíritos que se entusiasmam muito facilmente com as impressões do mundo e sem emitir juízos acabam perdendo-se nas informações do mundo.

O remédio para o mal gosto é cortar da vida qualquer tipo de música, séries, filmes, designs, passatempos, seja o que for, que não condizem com uma unidade de vida voltada para a procura do que é belo e bom verdadeiramente. Além disso, formar-se na boa arte e verdadeira filosofia, com ajuda de mestres justos.

 

*Carolina Agnelli é especialista em Filosofia da Arte, Estética e História da Arte.
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