A Arte está acima das ideologias (1)
Por Elis Bobato
Costumo terminar meus textos e palestras declarando que a restauração da Arte necessita da restauração do cristianismo. Desta vez além de começar com este pensamento vejo a necessidade de incluir o conservadorismo nesta conversa, analisando fatos que me levam a crer que os rumos da arte estão cada vez mais distantes da ordem natural das coisas. A Arte pura e verdadeira está acima das ideologias, portanto arte ideológica não é Arte e sim, arma revolucionária. Uma obra de arte sem viés ideológico é naturalmente conservadora, porque é natural do homem ser conservador enquanto ainda não teve a mente sequestrada por uma ideologia.
E quanto a ideologia do artista? Porque mesmo no absenteísmo ideológico do artista, o resultado final de uma obra de arte evoca sentidos, valores, etc, que se alinham a uma ideologia ou outra, sendo uma obra de arte uma “matriz de intelecções”, como dizia Suzanne Langer. O caso de um Ezra Pound. Era fascista, mas a obra dele tem valor universal. Não basta repudiar o que é ruim, precisamos promover o que é bom! Mas há, creio eu, uma grande diferença entre um artista fascista criar uma obra de arte e criar propositalmente uma propaganda ideológica travestida de obra. O que me leva a refletir sobre o que dizia Luis Lavelle: “O fracasso da vida cotidiana pode ser precisamente o fracasso de um homem que passa ao largo de sua vocação própria.” Conclusão na sua obra prima sobre a reflexão moral em “O Erro de Narciso”. Um artista longe de sua própria vocação produzindo propaganda política está fadado ao fracasso pessoal. Obviamente o ambiente político e ideológico influenciam não só o artista ao longo do processo criativo e de execução, bem como a fruição estética por parte do público, ou de cada admirador em específico, ainda que ambos não se deem conta disso.
Assim sendo, a Arte tornou-se uma arma de guerra nas mãos de grupos e órgãos que a usam para moldar a sociedade, que acostuma-se aos poucos com novos padrões de comportamentos nas áreas que nos são mais caras, como: religião, família, leis, economia, entre outros, mudando o comportamento das pessoas através da relativização de valores essenciais.
Para que a Arte pudesse ser usada como instrumento do marxismo cultural, grandes manobras falaciosas precisaram acontecer no campo filosófico para dar embasamento teórico a ser usado pela comunidade artística como justificativa à sociedade pelo horror que viria a seguir. Isto explica como passamos do êxtase diante da beleza das pinturas renascentistas para o repugnante “Queermuseu”. Arte Conceitual é o nome do movimento que rompeu o caminho natural das criações artísticas e assim como no dadaísmo tinha a intenção de rejeitar os métodos tradicionais da arte, como a escultura e a pintura. No lugar destas surgiu a ênfase na ideia embasada por uma grande onda de relativismo moral e estético, na qual a beleza, de claras proporções, tanto de formas como luz e cores, passa a ser relativa; o mesmo ocorreu com o bem e com a verdade – tudo passa a ser relativo. O que o movimento dizia propor, era tirar a atenção da obra em si, e trazer essa atenção para a ideia.
Partindo para os fatos, quero trazer a tona alguns exemplos como Vito Acconci que trabalhava em bizarras performances, explorando seu próprio corpo, mordendo-se e masturbando-se, enquanto fantasiava sobre os passos das pessoas que andavam em baixo da plataforma onde estava. Na performance “Enfeites”, passou três horas vestindo seu pênis com roupas de boneca e conversando com ele “como um colega de folguedos”. Ora, do meu ponto de vista, vestir um pênis com roupa de boneca, que é um brinquedo de criança, é claramente uma alusão e apologia a pedofilia. É o tipo de obra que transmite informação de forma dinâmica, rápida e retórica; isso é muito importante para o movimento e para uma revolução promovida pelo marxismo cultural. É a práxis, o fazer, o produto e o resultado final que importam.
Aqui no Brasil também temos um solo fértil tanto para as boas como para as más sementes, com mentalidade aberta à subversão, artistas ativistas políticos e de esquerda obviamente foram muito receptivos ao movimento em que tudo pode. Lygia Clark, artista de grande influência para as artes plásticas no Brasil, em1960, escreveu um texto intitulado “A Morte do Plano” que é uma síntese do resultado da filosofia kantiana e frankfurtiana. Segue um trecho: “O plano é um conceito criado pelo homem com fins práticos: para satisfazer sua necessidade de equilíbrio. O quadrado criação abstrata, é um produto do plano. O plano, marcando arbitrariamente os limites do espaço, dá ao homem uma ideia inteiramente falsa, e racional de sua própria realidade. Daí surgem os conceitos antagônicos como o alto e o baixo, o avesso e o direito – contribuindo para destruir no homem o sentimento de totalidade. É também a razão pela qual o homem projetou sua parte transcendente e lhe deu o nome de Deus. Assim colocou o problema de sua existência – inventando o espelho de sua própria espiritualidade. O quadrado se carregava de uma significação mágica, quando o artista o considerava como levando uma visão total do universo. Mas o plano está morto. A concepção filosófica que o homem projetava sobre ele não mais o satisfaz – nada mais resta que a ideia de um Deus exterior ao homem. (…) Mergulhamos na totalidade do cosmo; fazemos parte deste cosmo, vulneráveis por todos os lados – que deixaram de ser lados: o alto e o baixo; a direita e a esquerda; o avesso e o direito; enfim, o bem e o mal: outros tantos conceitos que se transformam (…)”.¹ Bem, uma breve análise deste texto é de que, a filosofia kantiana despejou no mundo o pensamento que faz total separação entre o homem e Deus. Pensamento prontamente absorvido pela Escola de Frankfurt, que veio a ser a base teórica da arte contemporânea. Lygia Clark é um dos frutos de uma filosofia completamente demoníaca, deixando bem claro seu pensamento de que Deus é uma criação da mente do homem para ter algo em que se apoiar, para ela Deus não é real, não existe. Para crer em algo precisamos ter alguma forma contato com o objeto de crença, para acreditar na existência de Deus é necessária a fé e a busca pela verdade. Quem duvida da existência do próprio espaço e suas formas mais elementares, negando até mesmo a matemática e a geometria analítica, está de fato muito longe de buscar a verdade e, quem não acredita na existência do quadrado não poderá nem mesmo acreditar na existência de Deus. Louco e burro deveria ser Leonardo da Vinci que aplicava seus estudos de proporção matemática e geométrica em suas obras, para dar harmonia às imagens retratadas. O grande desastre que vem a seguir é que, desde a publicação deste texto formaram-se mais três gerações de estudantes que foram ensinados a reverberar o mesmo discurso. E assim uma geração de imbecis irá imbecilizar a seguinte, caso não haja um retrocesso no caminho que está sendo seguido. Quando a percepção da realidade sai do debate artístico e filosófico, sendo que nada é real ou lógico, resta aos acadêmicos e aos artistas formarem uma roda e colocam o dedo no anus uns dos outros, denominando o ato de performance. Um exemplo bem prático das ações estupidificadas que foram realizadas pelas gerações seguintes por influência desta artista foi a desastrosa performance apresentada na abertura do 35º Panorama da Arte Brasileira em 2017, no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo. Na apresentação intitulada ‘La Bête’, o artista fluminense Wagner Schwartz permanece nu e deitado em um tablado no qual as pessoas, inclusive crianças, podiam interagir com o corpo dele. Parte do público, uma menina cerca de quatro anos de idade interagiu tocando o corpo nu do artista. A leitura do método de dessenssibilização é muito clara, fazendo com que a ideia de uma relação entre um adulto e uma criança passe a ser vista como algo normal. Olha aí a pedofilia novamente, para que posteriormente o tema seja discutido em sociedade e por fim a pedofilia seja descriminalizada na forma da lei. Esta performance é uma releitura da obra “O Bicho” de Lygia Clark. O artista diz que seu trabalho não tem conteúdo erótico. Quem concorda com um pensamento que nega a existência do que nos é mais elementar e obvio não enxerga se quer o que representa sua própria criação artística. Enfim, quem não reconhece a existência do quadrado na natureza não reconhece que há sim erotismo em tocar um homem nu. ( https://guiame.com.br/gospel/noticias/crianca-e-estimulada-tocar-homem-nu-em-exposicao-do-museu-de-arte-moderna.html)
¹ Clark, Lygia. Lygia Clark. Textos de Lygia Clark, Ferreira Gullar e Mario Pedrosa. Rio de Janeiro. FUNARTE, 1980-Arte Brasileira Contemporânea.
Leon Tolstoi em seu ensaio “O que é Arte?” publicado em 1898, demonstrava profunda angustia pelo estado da arte em sua época e acreditava que as gerações futuras iriam transformá-la em algo melhor, revelando uma crença na grandeza e influência que a arte tem na sociedade, como parte efetiva do progresso da humanidade capaz de transmutar a consciência racional das pessoas em sentimento. Em sua época a consciência religiosa era a consciência de fraternidade entre os homens. A arte orientada pelo cristianismo e com a ajuda da ciência, deveria tornar a vida pacífica, contagiando todas as esferas da sociedade, todas as classes sociais, todo comportamento, com um sentimento fraternal e amor ao próximo e que no lugar de violência por ela fosse estabelecida o Reino de Deus, o mais alto objetivo da vida humana. endo entendimento da grandeza e importância da arte para a humanidade, os postuladores da arte desde a Escola de Frankfurt até hoje, trataram de inverter completamente o seu uso para o mal e o afastamento de Deus. Não cabe a ninguém definir a função da arte, diz a comunidade artística. Porém enquanto caímos nesta conversa, deixando de usar a arte para o bem, enquanto a comunidade artística usa-a para o mal que cresce exponencialmente a cada dia, o contrário do ideal de arte sonhado por Tolstoi.
Leon Tolstoi – O que é Arte?