Uma sensibilidade perdida
Por Leandro Costa
Dias atrás um seguidor me falou que pareço não gostar dos filmes que “a maioria das pessoas gosta”.
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Respondi que as nossas escolhas são, de fato, uma “questão de gosto”. Mas eu também disse a ele que “gosto” não significa preferências individuais aleatórias, e sim uma sensibilidade educada.
Ou seja: gosto é algo que construímos, não é uma faculdade inata. Ainda mais quando se trata de objetos culturais, que são produtos de um cultivo, de uma seleção e de uma organização particular de elementos do mundo.
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Enfim, estou contando isso porque eu estava relendo algumas partes do livro “Esculpir o tempo”, do Andrei Tarkovski, e o cineasta começa o livro compartilhando algumas opiniões do público a respeito dos seus filmes.
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O que mais chama a atenção nas opiniões reproduzidas pelo Tarkovski é, justamente, a argúcia do público, a capacidade de expressão verbal das pessoas.
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Indivíduos das mais diferentes ocupações e dos mais diferentes estratos sociais não apenas compreendiam os filmes de maneira muito profunda, mas também conseguiam expressar o que tinham sentido ao assisti-los.
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Quando comparamos a qualidade dessas leituras com as opiniões que encontramos hoje (nos fóruns e grupos de cinema, no youtube, nos blogs e até mesmo em grande parte da crítica mais especializada), fica evidente o contraste entre o nível de sensibilidade.
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Não é apenas uma questão de gostar ou não de determinados filmes, porque a apreciação da arte permite infinitas idiossincrasias. É uma questão de se esforçar para tentar compreender aquilo que, a princípio, pode nos parecer estranho.
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Precisamos educar a nossa sensibilidade. Precisamos cultivar o “gosto”.